Certamente você já ouviu falar na necessidade do Artista Marcial trabalhar no desenvolvimento do "espírito", da técnica e do corpo, a tríade Shin, Gi e Tai.
- Shin kokoro/ mente, "espírito".
- Gi/ waza, técnica.
- Tai/ karada, corpo.
No desenvolvimento da Arte Marcial como um todo, torna-se imprescindível o conhecimento dessa estrutura afim de avançar cada vez mais em direção a seus objetivos.
Dentro da minha experiência como Artista Marcial e educador, a familiarização com esse conceito é fundamental para a completude como lutador ou como Mestre, e é por isso que resolvi abordar esse assunto, e farei-o em três etapas.
SHIN
Shin Kokoro ou simplesmente Shin, está relacionado a tudo que diz respeito ao desenvolvimento da
mente no sentido da ampliação da capacidade de concentração, determinação, análise, estratégia e reação, dentro e fora do Dojo ou combate.
Concentração ou foco é a capacidade de estarmos "presentes" ao momento. Para que fique mais claro vamos fazer uma pequena explanação sobre o pensar.
Nosso cérebro haje como um magnífico computador, que avalia, mede, calcula, compara, inclui, exclui, julga e reage em frações de segundos ou mile segundos de acordo com seu condicionamento específico que constitui-se basicamente por "memória".
Quando pensamos basicamente acessamos nosso "HD" de memórias: Memória RAM (registro automático de memória), memória sub-consciente ou inconsciente e memória consciente e através dessas memórias traçamos toda análise da situação. O "furo" é que toda nossa capacidade analítica dependo só do que sabemos, e o que sabemos é muito pouco ou quase nada, mas isso é conversa para outra hora.
A estrutura mental resume-se basicamente em percepção, pensamento, emoção e reação.
Primeiramente você percebe a ação, em seguida acessa seu "HD" e baseado em sua experiencia, pensa a respeito e em seguida surge uma emoção em relação ao seu pensamento e de bate e pronto surge uma reação.
A caráter ilustrativo: "Você está dirigindo em um daqueles engarrafamentos, quando de repente, ouve aquela buzina, percepção. Imediatamente você acessa seu "HD" onde certamente há uma "má" memória em relação a essas buzinadas e pensa: "#@% tá com pressa, sente a emoção relativa a esse pensamento e manda um, passa por cima!! (no mínimo) reação." Ai está o "Furo". O coitado só queria avisar que sua porta traseira estava aberta!
A meditação nos ensina a não julgarmos, (pensar sobre), pois assim possibilitamos enxergar a
situação como ela é, sem pensamentos e emoções, apenas percebendo e reagindo se assim for
necessário.
O Artista Marcial deve pular essas duas etapas nesse processo indo diretamente da percepção à reação,
eliminando assim o pensamento e a emoção para conseguir ações mais rápidas, eficazes e isentas.
Temos dois caminhos para trabalharmos o desenvolvimento dessa situação.
A primeira é o "Mokusso", a prática meditativa para, literalmente, esvaziar a mente antes e após a prática, porém o Mokusso pode e deve ser treinado em qualquer lugar e hora. Durante a prática do Mokusso o praticante deve inicialmente evitar" idas e vindas" ao passado e ao futuro, em pensamentos, focando-se no momento presente.
Uma das técnicas é observar a respiração de maneira contemplativa, sem interferências, atento a cada movimento do abdomen, tórax, costelas e costas durante a entrada e saída do ar, tornar-se um expectador do movimento respiratório.
Na sequencia utilizar cada sentido, tato, olfato, audição e visão para observar sensações, odores, sons e pontos, sempre isolados separando-os dos demais. Exemplo durante a meditação, focar-se em um único som observando-o atentamente. Durante esse processo não é possível elaborar pensamentos, é mais ou menos como ler um livro, quando você pensa em alguma coisa durante a leitura, tem que reler a página inteira.
A segunda maneira é a repetição, porém não só a repetição do movimento simples mas também a repetição sequenciada e mais importante, da situação de combate, dai a grande importância dos Katas e principalmente dos "Handoris".
A memória para movimento, ou a capacidade de memorização de movimentos sequenciados, chama-se "Engrama", e a memória para a excussão de "movimentos extremamente rápidos" chama-se "Engrama Motor", ou seja em termos "neuromusculares" é muito importante criarmos memórias a
cerca das técnicas que desenvolveremos durante um combate.
Para esse treinamento desenvolvo uma prática que chamo de "Estudo de Combate", onde os alunos
travam uma luta em "câmera lenta" onde há tempo para visualizar o ataque e discernir qual a melhor opção e executá-la. Outro treinamento muito eficaz é o de "Renzoku Waza", (técnicas de sequencia), à exaustão, assim quando a técnica treinada surgir em um combate o engrama motor entrara em ação, viabilizando uma resposta rápida, eficaz e isenta.
Atualmente em meus treinamentos, com um dos atletas de maior ascensão no Karatê brasileiro, Jayme Sandal, fazemos Handoris de mais de quarenta minutos ininterruptos, com as técnicas completas do Karatê Jutsu, o que tem acrescentado diversidade e versatilidade ao jogo de Jayme que segue conquistando cada vez mais, melhores resultados.
Oss!