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domingo, 24 de março de 2013

Shin Gi Tai.

Oss!





Certamente você já ouviu falar na necessidade do Artista Marcial trabalhar no desenvolvimento do "espírito", da técnica e do corpo, a tríade Shin, Gi e Tai.


  • Shin kokoro/ mente, "espírito".
  • Gi/ waza, técnica.
  • Tai/ karada, corpo.
No desenvolvimento da Arte Marcial como um todo, torna-se imprescindível o conhecimento dessa estrutura afim de avançar cada vez mais em direção a seus objetivos.
Dentro da minha experiência como Artista Marcial e educador, a familiarização com esse conceito é fundamental para a completude como lutador ou como Mestre, e é por isso que resolvi abordar esse assunto, e farei-o em três etapas.

SHIN

Shin Kokoro ou simplesmente Shin, está relacionado a tudo que diz respeito ao desenvolvimento da 
mente no sentido da ampliação da capacidade de concentração, determinação, análise, estratégia e reação, dentro e fora do Dojo ou combate.
Concentração ou foco é a capacidade de estarmos "presentes" ao momento. Para que fique mais claro vamos fazer uma pequena explanação sobre o pensar.
Nosso cérebro haje como um magnífico computador, que avalia, mede, calcula, compara, inclui, exclui, julga e reage em frações de segundos ou mile segundos de acordo com seu condicionamento específico que constitui-se basicamente por "memória".
Quando pensamos basicamente acessamos nosso "HD" de memórias: Memória RAM (registro automático de memória), memória sub-consciente ou inconsciente e memória consciente  e através dessas memórias traçamos toda análise da situação.  O "furo" é que toda nossa capacidade analítica dependo só do que sabemos, e o que sabemos é muito pouco ou quase nada, mas isso é conversa para outra hora.

A estrutura mental resume-se basicamente em percepção, pensamento, emoção e reação.
Primeiramente você percebe a ação, em seguida acessa seu "HD" e baseado em sua experiencia, pensa a respeito e em seguida surge uma emoção em relação ao seu pensamento e de bate e pronto surge uma reação

A caráter ilustrativo: "Você está dirigindo em um daqueles engarrafamentos, quando de repente, ouve aquela buzina, percepção. Imediatamente você acessa seu "HD" onde certamente há uma "má" memória em relação a essas buzinadas e pensa: "#@% tá com pressa, sente a emoção relativa a esse pensamento e manda um, passa por cima!! (no mínimo) reação." Ai está o "Furo". O coitado só queria avisar que sua porta traseira estava aberta!
A meditação nos ensina a não julgarmos, (pensar sobre), pois assim possibilitamos enxergar a 


situação como ela é, sem pensamentos e emoções, apenas percebendo e reagindo se assim for 
necessário.

O Artista Marcial deve pular essas duas etapas nesse processo indo diretamente da percepção à reação, 
eliminando assim o pensamento e a emoção para conseguir ações mais rápidas, eficazes e isentas.
Temos dois caminhos para trabalharmos o desenvolvimento dessa situação. 
A primeira é o "Mokusso", a prática meditativa para, literalmente, esvaziar a mente antes e após a prática, porém o Mokusso pode e deve ser treinado em qualquer lugar e hora. Durante a prática do Mokusso o praticante deve inicialmente evitar" idas e vindas" ao passado e ao futuro, em pensamentos, focando-se no momento presente.
 Uma das técnicas é observar a respiração de maneira contemplativa, sem interferências, atento a cada movimento do abdomen, tórax, costelas e costas durante a entrada e saída do ar, tornar-se um expectador do movimento respiratório.
 Na sequencia utilizar cada sentido, tato, olfato, audição e visão para observar sensações, odores, sons e pontos, sempre isolados separando-os dos demais. Exemplo durante a meditação, focar-se em um único som observando-o atentamente. Durante esse processo não é possível elaborar pensamentos, é mais ou menos como ler um livro, quando você pensa em alguma coisa durante a leitura, tem que reler a página inteira.
A segunda maneira é a repetição, porém não só a repetição do movimento simples mas também a repetição sequenciada e mais importante, da situação de combate, dai a grande importância dos Katas e principalmente dos "Handoris".    
A memória para movimento, ou a capacidade de memorização de movimentos sequenciados, chama-se "Engrama", e a memória para a excussão de "movimentos extremamente rápidos" chama-se "Engrama Motor", ou seja em termos "neuromusculares" é muito importante criarmos memórias a 
cerca das técnicas que desenvolveremos durante um combate.
Para esse treinamento desenvolvo uma prática que chamo de "Estudo de Combate", onde os alunos 
travam uma luta em "câmera lenta" onde há tempo para visualizar o ataque e discernir qual a melhor opção e executá-la. Outro treinamento muito eficaz é o de "Renzoku Waza", (técnicas de sequencia), à exaustão, assim quando a técnica treinada surgir em um combate o engrama motor entrara em ação, viabilizando uma resposta rápida, eficaz e isenta. 

Atualmente em meus treinamentos, com um dos atletas de maior ascensão no Karatê brasileiro, Jayme Sandal, fazemos Handoris de mais de quarenta minutos ininterruptos, com as técnicas completas do Karatê Jutsu, o que tem acrescentado diversidade e versatilidade ao jogo de Jayme que segue conquistando cada vez mais, melhores resultados.

Oss!






2 comentários:

  1. Muito bom Vinícius. Quem sabe, sabe!
    Forte abraço
    OSS...

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  2. Sensei, obrigado pelo link. Mais uma lição de valor inestimável, que já tive a honra de ouvir ao vivo, desde quando passei a sempre tentar aplicar a meus treinos.

    A eliminação das etapas pensamento-emoção é a melhor síntese que já ouvi da atitude a ser mantida em combate. Essa é daquelas análises que fazem imenso sentido quando ouvimos da primeira vez, porque nos identificamos com uma certa intuição do que se passa em nossa mente, e com a precisa definição conceitual que tão bem explica o que se passa.

    Além disso, essa lição representa (a mim ao menos) muito mais que simplesmente "fazer sentido". Imagino que muitos atletas já devam ter tido intuições próximas disso, pensadas de forma mais rudimentar como "o golpe entra bem melhor quando você o desfere sem pensar", ou ainda mais toscamente "quando vi meu soco já tinha entrado". No entanto, ter o fenômeno exposto dessa forma tão clara certamente contribui muito para o aprimoramento dessa cadeia de ação: a partir de quando (falo por mim) eu soube, pelo Sensei, dessa estrutura, ficou muito mais fácil notar a verificação prática desse esquema, e mesmo treinar essa sequência mental-física.

    Outra coisa que acho muito valorosa dessa lição é saber que o Mokusso tem enorme valia prática. Embora esse esvaziamento mental tenha utilidade em si mesmo, como benefícios de meditação, relaxamento etc., eu passei a vê-lo também e principalmente como um treinamento indireto de combate, como uma espécie de musculação daquela "parte do cérebro", se é que podemos chamar assim, responsável pela eliminação da etapa pensamento-emoção.

    Da mesma forma que treinar com pesos aumenta a força e a explosão musculares, o mokusso é quase um treino físico que encurta a ligação entre a percepção e a reação. Confesso que enxergar o mokusso como uma espécie de aprimoramento das armas me empolga mais a praticá-lo por mais tempo do que antes.

    No mais, não vejo a hora de poder treinar esse "estudo de combate". Espero poder fazê-lo o mais cedo possível!

    Grande abraço e mais uma vez parabéns e obrigado pelos ensinamentos.

    Oss!

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